Após a publicação de uma crítica negativa sobre o filme Ainda Estou Aqui no jornal francês Le Monde, brasileiros invadiram as redes sociais do veículo para expressar indignação. O texto, escrito pelo jornalista Jacques Mandelbaum, chamou a atuação de Fernanda Torres de “monocórdica”, termo que se refere a uma performance de uma tonalidade única, sem variação.
A avaliação sobre a atriz, vencedora do Globo de Ouro, gerou um enorme debate na web, com muitos fãs e cinéfilos defendendo o trabalho de Torres e atacando a análise feita pelo crítico francês. Além disso, a crítica de Jacques Mandelbaum não se limitou à atuação de Torres, mas também questionou a direção do filme.
O jornalista aponta que o foco na personagem Eunice Paiva, interpretada por Fernanda Torres, fez com que o filme “passasse com um traço leve demais pela compreensão do mecanismo totalitário”. Segundo o crítico, essa abordagem teria suavizado a complexidade da ditadura militar brasileira, tema central da trama.
O filme Ainda Estou Aqui conta a história real de Eunice Paiva (1929-2018), mãe do escritor Marcelo Rubens Paiva, que buscou por mais de 40 anos respostas sobre o desaparecimento de seu marido, Rubens Paiva (1929-1971), durante a Ditadura Militar (1964-1985) no Brasil. O longa tem direção de Walter Salles e é uma coprodução entre Brasil e França.
Internautas defendem Fernanda Torres de crítica do Le Monde
Após a divulgação da crítica nas redes sociais, muitos brasileiros se mobilizaram para expressar seu descontentamento. O Instagram do Le Monde foi invadido por centenas de comentários em português, muitos deles defendendo a atuação de Torres e pedindo respeito à atriz.
Além de exaltar o trabalho de Fernanda Torres, internautas brasileiros também atacaram Emilia Pérez, coprodução entre França e México que disputa o prêmio de melhor filme internacional ao lado do longa de Walter Salles. Entre os comentários mais irônicos, alguns internautas aludiram à rivalidade gastronômica entre os dois países. “Pão de queijo é melhor que croissant”, escreveu um usuário.
Já outro sugeriu que “o Brasil tem mais uma página para derrubar”, em referência à repercussão da crítica e ao impacto nas redes sociais. Além disso, diversos internautas brasileiros questionaram o entendimento de Mandelbaum sobre a história do Brasil e a forma como o filme Ainda Estou Aqui aborda a ditadura militar.
“Por acaso vocês são brasileiros para definir o que é ‘suavizar’ a ditadura? Por acaso vocês estavam aqui? Atuação sem emoção? Eunice Paiva teria qual reação com pessoas desconhecidas e armadas dentro da própria casa?” questionou um dos internautas.
Ainda Estou Aqui recebe elogios de outras publicações francesas
Embora a crítica de Le Monde tenha sido negativa, com uma avaliação de apenas uma estrela de quatro, Ainda Estou Aqui tem recebido elogios de outras publicações francesas. O Libération destacou o filme como uma narrativa forte e emocional, enquanto a revista Cahiers du Cinéma ressaltou a sutileza da obra.
O Le Figaro considerou a história “cativante e poderosa”, e o Positif descreveu o filme como “intimista e universal”. A revista Le Nouvel Obs chegou a chamar o longa de “o melhor filme de Walter Salles”, destacando seu enfoque sobre a memória e os desaparecidos políticos.
Em meio à repercussão negativa do Le Monde, o filme segue com grande sucesso de bilheteira no Brasil, alcançando 3 milhões de espectadores, e com reconhecimento crescente em festivais internacionais. A obra foi selecionada para mais de 50 festivais ao redor do mundo.