Pantanal (1990) e O Rei do Gado (1996) marcaram a ficção brasileira ao colocar o agronegócio no centro das novelas. Exibidas na TV Manchete (1983-1999) e na TV Globo, respectivamente, as tramas exploraram o cotidiano do campo e moldaram a percepção pública sobre o agro. Ambientadas em cenários rurais, ambas destacaram o conflito entre tradição e progresso.
O folhetim Pantanal, que ganhou remake em 2022, abordou a tensão entre modernidade e natureza, com paisagens marcadas por misticismo. Já O Rei do Gado, exibida no horário nobre da Globo e representada no mesmo ano, retratou disputas por terras e o embate entre latifundiários e trabalhadores rurais. Com forte carga dramática, as histórias revelaram transformações sociais e dilemas éticos.
As novelas rurais criaram personagens emblemáticos como o fazendeiro autoritário e a herdeira determinada. Esse imaginário se perpetuou com arquétipos que ampliaram o debate sobre a estrutura fundiária no Brasil. Pantanal reforçou esse legado, enquanto O Rei do Gado mostrou o campo como espaço de conflito político e social.
TV Globo retomou foco do agro nas novelas em Terra e Paixão
Com a novela Terra e Paixão (2023), a Globo retomou o foco no ambiente rural. Escrito por Walcyr Carrasco, o folhetim apresentou Aline, vivida por Barbara Reis, uma professora que assume uma fazenda após perder o marido. A novela das nove destacou a sucessão familiar sob um olhar feminino, enfrentando o machismo e disputas de terra.
Último relativo sucesso do horário nobre da emissora, a produção ainda abordou o papel da mulher como gestora rural e a resistência de produtores tradicionais. Sem abdicar dos dramas pessoais, Terra e Paixão abordou temas atuais como justiça agrária e enfrentamento ao patriarcado no campo, renovando o debate sobre o agro na televisão.
Renascer aprofundou presença do agro nas tramas
Renascer (2024), também da TV Globo, aprofundou a representação rural ao focar na produção de cacau na Bahia. O remake da obra de Benedito Ruy Barbosa, assinado pelo neto do autor Bruno Luperi, mostrou os dilemas de José Inocêncio (Marcos Palmeira) ao lidar com herança, tradição e inovação. Por outro lado, a presença feminina ganhou força com a chegada de Aurora (Malu Mader), empresária do setor.
A trama refletiu as tensões geracionais, ambientais e econômicas que marcam o agro contemporâneo. Nesse sentido, ao integrar questões sociais à paisagem rural, a novela Renascer atualizou o discurso sobre identidade e gestão agrícola, sem perder o lirismo da versão original.
Novelas com temática rural tornaram-se espaço para discutir identidade regional, violência no campo e relações de poder. Com personagens complexos e tramas densas, produções recentes reforçaram o agro como elemento dramático, indo além do cenário e assumindo papel ativo nas histórias.
Considerações finais
Em suma, mesmo com a crescente urbanização, o campo continua presente na teledramaturgia brasileira. As produções de sucesso da TV como Pantanal, O Rei do Gado, Terra e Paixão e Renascer mostram que o agro nas novelas é também um espelho dos dilemas nacionais, onde emoção e crítica social se encontram para narrar o Brasil a partir da terra.