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SUBNOTIFICAÇÃO

Profissão Repórter investiga mortes violentas não registradas nas estatísticas oficiais

Equipe do jornalístico da TV Globo vai atrás de 20 casos de óbito de pessoas cuja causa da morte foi classificada como “morte violenta por causa indeterminada”

Caco Barcellos durante gravação do Profissão Repórter em unidade médica
No Profissão Repórter, Caco Barcellos mostra como a violência urbana afeta a vida das pessoas e a rotina dos serviços de saúde - Foto: Globo/Divulgação
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O Brasil registrou 46.409 homicídios em 2022, mas o Atlas da Violência indica que esses números estão subnotificados. Daniel Cerqueira, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), afirma que quase seis mil homicídios não foram registrados oficialmente, sendo erroneamente categorizados como mortes violentas por causa indeterminada. O Profissão Repórter desta terça-feira (25) investiga esses casos que não constam nas estatísticas.

Esses homicídios não registrados, conhecidos como homicídios ocultos, ocorrem quando não há um autor suspeito. Cerqueira explica que as pesquisas utilizam inteligência artificial para identificar padrões de homicídios no Brasil.

“A gente utilizou a inteligência artificial para que ela ‘aprendesse’ o padrão de um homicídio no Brasil, que é passível de ser reconhecido por diversos fatores, como: o instrumento que causou a morte, o horário do óbito, a escolaridade da vítima, etc. Depois, a inteligência artificial olha para o conjunto de mortes violentas cuja causa não foi determinada. Ela identificou que mais de 40% delas são, na realidade, homicídios”, diz o pesquisador.

Ainda no Profissão Repórter, o repórter Chico Bahia e o técnico de som Carlos Oliveira exploram esses casos com 20 certidões de óbito de pessoas cuja causa da morte foi registrada como “morte violenta por causa indeterminada”. Entre os casos, está o de um gari de 27 anos morto a tiros enquanto trabalhava. A busca acontece nas proximidades do Hospital do Campo Limpo, em São Paulo, a cidade que lidera o ranking de homicídios ocultos no Brasil.

Profissão Repórter mostra como a violência afeta serviços de saúde

De acordo com o Atlas da Violência, uma pessoa negra é vítima de homicídio a cada 12 minutos no Brasil, representando 76,5% dos assassinatos no país. No Rio de Janeiro, Caco Barcellos e o repórter cinematográfico João Lucas Martins mostram como a violência urbana afeta a vida das pessoas e a rotina dos serviços de saúde. A prefeitura estima que as internações de vítimas de armas de fogo custam diretamente 4 milhões de reais por ano, com custos indiretos chegando a 20 milhões de reais.

No Hospital Adão Pereira Nunes, referência em trauma na Baixada Fluminense, a médica recém-formada Sara Nascimento relatou que em apenas dois dias de plantão, três jovens negros chegaram mortos à emergência, vítimas de arma de fogo.

“Eu, como médica e mulher negra, vejo muitos pacientes [negros] aqui no hospital que sofreram algum tipo de violência. E nem sempre é só a violência armada, às vezes é violência doméstica, pode ser até mesmo atropelamento. E o paciente chega, muitas vezes, sem identificação, fica muito tempo, não consegue encontrar a família. Querendo ou não, isso é um tipo de agressão. Você vê que o corpo preto é mais deixado de lado, sofre mais e é violentado todos os dias”, lamenta a profissional da saúde.

Em um ano, o Brasil registrou aumento de 39,4% nos casos de violências contra pessoas LGBTQIAPN+, sigla que inclui lésbicas, gays, bissexuais, travestis, trans, queers, intersexuais, assexuais, pansexuais, pessoas não-binárias, dentre outras. Em 2022, 8.028 pessoas foram vítimas de violência. Segundo dados do Atlas da Violência, organizado pelo IPEA e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, os homossexuais sofreram 5.826 destas agressões.

O Profissão Repórter vai ao ar nesta terça (25), após Sob Pressão, na TV Globo.

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Túlio Medeiros

Túlio Medeiros é editor-chefe do Portal da TV e escreve sobre televisão e colabora com sites de entretenimento desde 2010. Além de novelas e programas de auditório, sua preferência nas telinhas é acompanhar telejornais locais e nacionais das principais emissoras brasileiras.