O Globo Rural deste domingo (28), na TV Globo, apresentou um panorama aprofundado do agronegócio brasileiro, conectando a alta tecnologia do mercado de equinos às tradições do extrativismo no Nordeste. A edição destacou a valorização da raça Quarto de Milha, impulsionada por competições esportivas milionárias, e o volume histórico nas exportações de feijão mungo, que encontrou na Ásia um mercado consumidor voraz.
Além dos grandes negócios, a edição do Globo Rural detalhou inovações genéticas na piscicultura e a riqueza cultural do licuri. A atração reforçou como a pesquisa e a sabedoria popular caminham juntas para fortalecer a economia no campo, mostrando que o setor vai muito além das commodities tradicionais.
Mercado de cavalos em alta
Um dos blocos do programa abordou o universo dos cavalos, especialmente na modalidade esportiva conhecida como Três Tambores, chamada de Fórmula 1 das Arenas. A competição exige velocidade e precisão no trajeto: o conjunto (cavalo e cavaleiro) deve contornar o primeiro tambor pela direita e os dois seguintes pela esquerda. O Brasil é considerado um celeiro de talentos, como a pequena Helena, de apenas nove anos, que já compete e mantém os pés no chão.
“É bom e é ruim, né? O que eu falo para a Helena é o seguinte: não é porque você tem destaque, porque as pessoas te conhecem, que você pode ser metida ou alguma coisa dessa forma. Se começar com isso, eu desligo esse negócio e acabou”, relatou a mãe da competidora mirim, enfatizando a educação por trás do esporte.
A busca pela perfeição é intensa e medida em milésimos de segundo. A brasileira Louise, atual recordista mundial com o tempo de 16,262 segundos, descreveu a emoção da conquista: “Sensação única que é difícil a gente falar em palavras. Eu me dedico muito. Treino todos os dias. Faço um acompanhamento com um mentor próprio para atletas também. Então, é muita dedicação da minha parte.”
Para alcançar esse nível, o bem-estar animal é prioridade. O Globo Rural mostrou que os cavalos atletas contam com spas, banheiras de gelo, fisioterapia e acupuntura para recuperação muscular, além do uso obrigatório de esporas sem pontas para evitar ferimentos.
O mercado está aquecido. Animais de alta genética chegam a ser negociados por valores expressivos, como uma égua vendida por quase R$ 3 milhões. O setor movimenta cerca de R$ 30 bilhões por ano, impulsionado por leilões e o uso de biotecnologias avançadas, como a inseminação artificial e a transferência de embriões, que permitem multiplicar a descendência de campeões consagrados.
Eventos como o Potro do Futuro, considerado o campeonato brasileiro da raça, reuniram cerca de 1.800 animais, consolidando o Brasil como referência global. Paulo Ferreira, criador da Fazenda Caruana, em Bauru (SP), herdou a paixão do pai e resumiu o sentimento de quem vive do setor. “Desde pequeno ele falou: ‘O maior lucro que o cavalo vai te dar são as amizades que ele vai te trazer’. Isso é uma grande verdade. E como eu gostava de cavalo, o amor também ia para junto.”
Recorde no feijão
Outro destaque do Globo Rural foi o desempenho do feijão mungo, um grão pequeno e esverdeado. As exportações brasileiras bateram recorde em 2025, superando 500 mil toneladas, um aumento de 64% em relação à temporada anterior. O estado de Mato Grosso lidera a produção, respondendo por quase três quartos do total nacional.
Produtores de cidades como Sorriso e Nova Mutum aproveitaram a demanda internacional aquecida, principalmente de países como Índia e China. Felipe, produtor local, explicou a estratégia de cultivar fora da janela ideal para aproveitar os preços. “Nesta safra, estamos cultivando 1.700 hectares de feijão mungo verde, 100% de exportação, mercado asiático. É um feijão que tem muita demanda. Índia própria, China. A nossa produção já está toda comercializada.”
Apesar das chuvas recentes que paralisaram as máquinas por alguns dias, a produtividade se manteve estável, com uma média de 25 sacas por hectare. O ciclo rápido do grão, de cerca de 65 dias, é um trunfo para o agricultor Leandro, que consegue encaixar o cultivo entre as safras principais. “Então ele se encaixa bem no nosso sistema produtivo. As colheitadeiras, os maquinários que trabalham para a soja trabalham com ele e ele tem uma remuneração rápida, com 65 dias voltando dinheiro para o caixa.”
Inovação no tambaqui
No Tocantins, a tecnologia tem transformado a criação de peixes. O Globo Rural mostrou um projeto de melhoramento genético do tambaqui desenvolvido pela Embrapa Pesca e Aquicultura. A pesquisa identificou que as fêmeas da espécie crescem mais rápido que os machos, o que motivou o desenvolvimento de uma técnica de reversão sexual.
Para aumentar a produtividade, os cientistas criaram uma ração com hormônios específicos que eleva a proporção de fêmeas nos tanques. O resultado foi sentido no bolso por produtores como o Seu Enoque, que viu o tempo de cultivo diminuir drasticamente. “Quando nós começamos a criar peixes, nós não sabíamos criar peixe. E para nós foi muito difícil. (…) E agora o Tambaqui atinge um quilo e 700 em dez meses. É realmente um avanço.”
Além do crescimento acelerado, a Embrapa trabalha em outra frente revolucionária: o desenvolvimento de linhagens de tambaqui sem as espinhas em Y (intramusculares), visando facilitar o consumo e a filetagem industrial. O objetivo agora é adaptar essas tecnologias, testadas em tanques-rede, para viveiros escavados, onde ocorre 90% da produção nacional.
Riquezas do Nordeste
O Globo Repórter viajou até Vicência, em Pernambuco, onde a colheita de banana chega a 90 mil toneladas por ano, colocando o município entre os dez maiores produtores do país. O produtor Everaldo utiliza drones para combater a Sigatoka Negra, doença causada por um fungo que necrosa as folhas da bananeira. Além da fruta in natura, a região agrega valor com o tradicional licor de banana, que passa por processos de pasteurização para garantir qualidade.
Já na Bahia, o destaque foi o licuri, fruto de uma palmeira típica da Caatinga e protegido por lei no estado. Na Chapada Diamantina, a associação Casa de Maria processa entre 200 e 300 quilos do fruto por mês, transformando-o em sorvetes (vendidos a R$ 80 o quilo), cocadas e artesanato de palha.
Mulheres extrativistas, como a Dona Nilda, garantem o sustento com a quebra do coco, uma tradição passada de mãe para filha. “Quando eu tô quebrando o coco eu sinto que eu tô tão bem. É gostoso demais, eu adoro! (…) Graças a Deus, meu filho, tá tudo criado. Viva o Licuri!”
A inovação também chegou ao licuri: em parceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), a comunidade está desenvolvendo uma pomada para dores musculares à base do óleo do fruto, mostrando o potencial farmacêutico da biodiversidade da Caatinga.
Dúvidas dos telespectadores do Globo Rural
No quadro de perguntas do Globo Repórter, especialistas responderam com detalhes técnicos às questões enviadas pelo público, abordando desde hortas caseiras até grandes culturas.
1. Hidroponia com problemas
Nelson, de Porto Alegre (RS), relatou que suas mudas de alface e rúcula não cresciam no sistema hidropônico. O professor Santino Seabra, da Unesp de Botucatu, identificou múltiplos fatores: falta de luminosidade devido a um muro que sombreava a estufa e calor excessivo que causava o florescimento precoce (“pendoamento”).
- Solução: O especialista recomendou garantir pelo menos 8 horas de luz diária, melhorar a ventilação da estufa e usar variedades resistentes ao calor. Além disso, alertou para o monitoramento diário do pH da água (ideal entre 5,5 e 6,5) e a condutividade elétrica. A recomendação imediata foi esvaziar o sistema, fazer uma limpeza completa e consultar um agrônomo para ajustar a solução nutritiva, já que alface e rúcula têm exigências nutricionais diferentes e cultivá-las juntas exige equilíbrio.
2. Galo andando para trás
William Nunes, de Minas Gerais, enviou um vídeo de seu galo ciscando e andando para trás de forma curiosa.
- Explicação: O veterinário Henrique, consultor do Globo Rural, tranquilizou o criador. Ele explicou que, em animais jovens, esse comportamento é uma forma de exibição natural para atrair as fêmeas, uma espécie de “balé” de cortejo, e não uma doença. Problemas neurológicos causariam desequilíbrio e andar torto em aves mais velhas, o que não era o caso do galo de William.
3. Orquídea que não floresce
Vilson Gonçalves, do Espírito Santo, reclamou que sua orquídea não dava flores mesmo sendo adubada constantemente.
- Diagnóstico: A especialista Milene explicou que o adubo comum (NPK padrão) pode ter muito nitrogênio, o que estimula apenas o crescimento das folhas (“massa verde”), mas não a flor.
- Solução: Ela indicou o uso de fertilizantes específicos para floração, ricos em fósforo e potássio. A aplicação deve ser feita via pulverização nas folhas (frente e verso) a cada 15 ou 20 dias, sem encharcar. Também reforçou a necessidade de iluminação adequada, pois a falta de luz é uma das principais causas da ausência de botões florais.
4. Cupuaçu sem frutos
José Virgílio, de Manaus (AM), tem um pé de cupuaçu há dez anos que só dá flores, mas nunca frutos.
- Explicação: O agrônomo Rafael Moysés, da Embrapa, esclareceu que o cupuaçu é uma planta auto-incompatível. Isso significa que ela não consegue se polinizar sozinha; ela precisa de outra árvore geneticamente diferente por perto para que insetos façam a polinização cruzada. Mesmo com a flor tendo partes masculina e feminina, a planta possui barreiras naturais que impedem a autofecundação.
- Solução: O produtor precisará plantar outra muda (de semente ou enxertada) de uma genética distinta. Infelizmente, terá que esperar essa nova planta florescer (cerca de 2 a 3 anos) para que ocorra o cruzamento e a produção de frutos comece. O especialista pediu paciência, mas garantiu que o resultado valerá a pena.


