Manuela Dias, autora de Amor de Mãe (2018) e Justiça (2015), adiantou em entrevista que a personagem Odete Roitman, vilã central do remake de Vale Tudo, passará por mudanças significativas. Escolhida pela TV Globo para assumir a nova versão do clássico de Gilberto Braga (1945-2021), a roteirista destacou que a antagonista, eternizada por Beatriz Segall (1926-2018) em 1989, será adaptada para refletir transformações sociais e culturais das últimas três décadas.
Em entrevista para a Folha de S.Paulo nesta segunda-feira (14), Manuela pontuou que tanto o Brasil quanto o público evoluíram desde a exibição original de Vale Tudo. Ela questionou algumas das características controversas da personagem, que foram marcantes no passado, mas que hoje exigem uma abordagem diferente.
“Gilberto Braga, com Odete, extrapolava uma válvula de escape para criticar o Brasil de forma intensa. Atualmente, para provocar o mesmo impacto, não precisamos utilizar os mesmos recursos”, analisou. Manuela Dias ressaltou, por exemplo, que, na versão original, Odete era julgada por sua liberdade sexual aos 60 anos, algo que, segundo ela, não teria a mesma recepção no contexto atual. “Não estou dizendo que ela será feminista, mas são diferenças que precisam ser consideradas”, explicou.
Trabalhando ao lado de Sérgio Rodrigues, colaborador de Gilberto Braga na primeira versão de Vale Tudo, Manuela afirma que já concluiu um terço do folhetim, que contará com 172 capítulos, menos do que os 204 episódios originais. Ela justificou a redução explicando que, atualmente, os problemas são resolvidos mais rapidamente, o que reflete em uma narrativa mais compacta nas tramas.
Para a autora, as mudanças vão além da trama e dos personagens. Ela destacou que, nos anos 1980, o alcoolismo não era tratado como doença, e, por isso, Heleninha Roitman era vista apenas como uma “pinguça”. Manuela Dias defendeu que essa e outras questões, como o machismo presente nos diálogos e ações dos personagens masculinos, precisam ser repensadas na nova versão para que se adequem ao atual momento social.
“Muita coisa mudou. Temos a sensação de que a agenda social não avança, mas avançou muito. Alcoolismo não era considerado doença, então Heleninha Roitman era vista como uma pinguça que bebia porque tinha vontade. O machismo era ainda pior, então todos os personagens homens batiam ou ameaçavam bater nas mulheres”, explica a autora do remake de Vale Tudo.
A nova versão de Vale Tudo está prevista para estrear no primeiro semestre de 2025, embora a TV Globo ainda não tenha divulgado a data oficial. A expectativa é que a novela vá ao ar em março, caso Mania de Você, que enfrenta problemas de audiência, não sofra alterações na duração de sua exibição. A releitura da trama, que também teve Leonor Bassères (1926-2004) e Aguinaldo Silva como autores titulares, será um dos destaques da comemoração dos 60 anos da emissora.
