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Grande Prêmio do Cinema Brasileiro

Estudo revela desigualdade de raça e gênero em premiação do cinema brasileiro

Análise do Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa destaca a predominância de homens brancos e a baixa representatividade de mulheres e PPIs em 22 anos de premiação

Foto de banco de imagens que mostra um homem preto nos bastidores de gravação de um filme
Levantamento revela disparidade de raça e gênero na premiação Grande Prêmio do Cinema Brasileiro ao longo de 22 anos - Foto: Divulgação
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Uma análise inédita realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA) evidenciou as disparidades de gênero e raça nas indicações e premiações do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (GPCB). O estudo, intitulado Diversidade de Raça e Gênero no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (2002-2023), revelou que a presença de pessoas pretas, pardas ou indígenas (PPIs) nas principais categorias é exceção, enquanto homens brancos dominam as premiações.

Realizado pela Academia Brasileira de Cinema (ABC) desde 2002, o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro é um dos eventos mais importantes do cinema nacional. Apesar da relevância, a pesquisa do GEMAA demonstrou que a representatividade ainda é uma questão pendente. O levantamento mostrou que, em mais de duas décadas de premiação, homens brancos receberam quatro vezes mais indicações na categoria Melhor Ficção do que todos os outros grupos combinados. Entre os vencedores, 70% dos prêmios foram para esse grupo, mesmo que as indicações para eles somem 81%.

A pesquisa do GEMAA trouxe à tona não só a falta de representatividade, mas também a ausência quase total de mulheres PPIs em categorias importantes como Direção e Roteiro. Nenhuma mulher PPI dirigiu ou roteirizou filmes de grande público no Brasil nas últimas décadas. Em contrapartida, as mulheres brancas obtiveram maior visibilidade, com destaque para Anna Muylaert, vencedora do prêmio Melhor Ficção por duas vezes. No entanto, no gênero documentário, a representatividade das mulheres PPIs também é ínfima: apenas 1% das indicações na direção dessa categoria foram para esse grupo.

O levantamento destacou o pioneirismo de alguns indivíduos em meio a essas disparidades. Entre os casos isolados, está a vitória de Gabriel Martins, em 2023, por Marte Um, sendo o primeiro homem PPI a vencer na categoria de Direção após 22 anos de Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Ainda assim, esses casos são exceções e não representam uma mudança na estrutura de poder do cinema brasileiro.

Para Luiz Augusto Campos, coordenador do GEMAA, os dados indicam a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a diversidade no cinema. Ele defende a implementação de cotas em editais e iniciativas que garantam uma representatividade mais justa na indústria. “Esta pesquisa traz à tona as trajetórias apagadas e os desafios enfrentados por cineastas sub-representados, destacando a importância de premiações e festivais como espaços de consagração e ativismo”, afirma.

Tatiana Carvalho, presidente da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN), reforçou a importância do trabalho do GEMAA para a conscientização e mobilização em prol da representatividade. “O GEMAA desempenha um papel indispensável e sério na produção contínua de dados, o que nos ajuda a enxergar essa realidade de forma mais objetiva e a traçar estratégias mais eficazes”, explica.

Resumo dos dados do estudo sobre a desigualdade racial e de gênero no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro:

Homens brancos dominam as premiações de direção e roteiro do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro

  • Diretores homens brancos são 70% dos vencedores na categoria Melhor Ficção, 81% dos vencedores em Melhor Documentário e 74% dos vencedores em Melhor Direção.
  • Roteiristas homens brancos são 77,5% dos vencedores em Melhor Roteiro Original e 88% em Melhor Roteiro Adaptado.

Pessoas brancas dominam as indicações para premiação do elenco do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, mas atrizes e atores pretos, pardos ou indígenas ganham destaque

  • Na categoria Melhor Atriz, mulheres brancas são 84% das indicadas e 81% das vencedoras, contra 16% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 19% de vencedoras.
  • Na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, mulheres brancas são 88% das indicadas e 91% das vencedoras, contra 13% de indicadas mulheres pretas, pardas ou indígenas e 9% de vencedoras.
  • Na categoria Melhor Ator, homens brancos são 80% dos indicados e 73% dos vencedores, contra 20% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 27% de vencedores.
  • Na categoria Melhor Ator Coadjuvante, homens brancos são 79% dos indicados e 78% dos vencedores, contra 21% de indicados homens pretos, pardos ou indígenas e 22% de vencedores.
  • Em mais de duas décadas, entre 2002 e 2023, excluindo 2006 por ausência de dados, a indicação exclusivamente de pessoas brancas ocorreu em 38% das vezes na categoria Melhor Atriz, 38% na categoria Melhor Atriz Coadjuvante, 38% das vezes na categoria Melhor Ator e 24% na categoria Melhor Ator Coadjuvante.

O estudo produzido pelo GEMAA conta com o apoio de divulgação da Associação de Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) e +Mulheres no Audiovisual.

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Túlio Medeiros
Editor-chefe do Portal da TV e escreve sobre televisão e colabora com sites de entretenimento desde 2010. Além de novelas e programas de auditório, sua preferência nas telinhas é acompanhar telejornais locais e nacionais das principais emissoras brasileiras.
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